sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O paradoxo das gerações

Meu avô materno chegou de Portugal ao Brasil em 1951. Tinha 48 anos, e veio com os seus 2 filhos mais velhos, deixando em Portugal a minha avó e os outros 7 filhos mais novos. Durante os 2 anos seguintes, ele juntou dinheiro visando pagar a passagem de navio dos demais familiares que estavam em Portugal. No Brasil, trabalhou inicialmente como mestre de obras e depois como comerciante. Chegou no Brasil sem nada, mas quando veio a falecer, havia construído alguns imóveis comerciais e residenciais que permitiram a subsistência da família enquanto jovens. Uma vez que a minha avó veio a falecer, estes imóveis não foram herdados por ninguém, e sim comprados por mim do restante dos meus tios e da minha mãe. 

Dos seus 9 filhos, 7 eram mulheres e 2 eram homens. 7 estão vivos, mas vieram a falecer uma tia e um tio. Nenhum dos seus filhos fez curso superior e também não herdaram nada. Todos, sem exceção, possuem ou possuíram imóveis para geração de renda, casaram-se e nunca se separaram, e a renda principal atualmente advêm do aluguel destes imóveis. A aposentadoria do INSS serve como complementação da renda, mas não é a renda principal. Numa escala descendente, os seus filhos (meus tios) possuem ou deixaram um patrimônio aproximado de:

Filha A - ~R$70.000.000,00
Filho B - ~R$17.000.000,00
Filha C - ~R$8.000.000,00
Filha D - ~R$7.000.000,00
Filha E - ~R$5.000.000,00
Filha F - ~R$4.000.000,00 -> falecida
Filho G - ~R$3.000.000,00 -> falecido
Filha H - ~R$2.500.000,00
Filha I - ~R$400.000,00

Os filhos do meu avô tiveram a seguinte quantidade de filhos:

Filha A - 2 (1 com curso superior, 2 casaram e 1 separou)
Filho B - 3 (2 com curso superior, 1 não casou, 2 casaram e nenhum separou)
Filha C - 3 (1 com curso superior, 1 não casou, 2 casaram e 2 separaram)
Filha D - 1 (1 com curso superior, 1 casou e 1 separou)
Filha E - 2 (2 com curso superior, 2 casaram e 1 separou)
Filha F - 4 (2 com curso superior, 4 casaram e 3 separaram)
Filho G - 1 (nenhum com curso superior, 1 casou e não separou)
Filha H - 3 (2 com curso superior, 1 não casou, 2 casaram e 1 separou)
Filha I - 2 (2 com curso superior, 2 casaram e 1 separou)

Somando, temos um total de 21 netos, sendo que 13 fizeram curso superior. Com relação ao matrimônio, 3 nunca se casaram e 18 se casaram, e desses 18, 10 se separaram. 

Fazendo um perfil mais detalhado de como os netos foram criados, posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que todos eles tiveram o necessário para viver bem. Isto incluiu: plano de saúde, escola particular, curso de inglês, mesada, casa confortável etc. Agora vem a parte mais interessante: todos os netos são adultos hoje (o mais novo possui 32 anos), e do total de 21 netos, apenas 2 não dependeram dos pais ou dos sogros para: despesas do casamento E compra do próprio carro E compra da própria casa E “mesada“ para despesas das suas famílias, etc. 

Dos outros 2 netos que sobraram, um sou eu, e o outro é um primo que é servidor público federal e nunca se casou. Eu sou filho da “Filha I”, e o meu primo é filho da “Filha H”, ou seja, as filhas com menor patrimônio. Nenhum dos outros 19 netos prosperaram até agora, e dependem dos pais para complementar o pagamento de suas despesas ou de suas famílias.

Algumas questões, portanto, vêm à tona: 

1) facilitar a vida do seu filho não irá fazer com que ele cresça e se torne uma pessoa independente. Muito pelo contrário.
2) curso superior não garante nada hoje em dia, mas pode ser importante para dar os primeiros passos.
3) alguns valores do passado vêm se perdendo com o tempo. Isto inclui: trabalhar desde cedo com os pais e desenvolver habilidades empreendedoras, levar o matrimônio a sério, levar uma vida frugal, etc.
4) educar os filhos tendo um bom patrimônio pode ser mais difícil do que educá-los sem ter patrimônio algum.


Muitas destas questões podem ser lidas e confirmadas no livro “O milionário mora ao lado”, que recomendo a leitura.