domingo, 10 de março de 2013

Um certo tio José



Certa vez, perguntei a um já falecido tio da família – no qual vou chamar de José - , que foi muito rico, qual o melhor lugar para se ganhar dinheiro. Ele me disse: o Brasil! Demorei a entender o seu ponto de vista, afinal, aqui se paga tanto imposto e quase não vemos o retorno deste dinheiro. Eu não compreendia a sua resposta, mas tentar entender o seu ponto de vista era mais importante do que tentar questioná-lo, afinal este mesmo José começou “do nada”, foi um autêntico rico de primeira geração.

A sua explicação era simples: no Brasil existem diversas oportunidades inexploradas, enquanto que lá fora (leia-se países mais desenvolvidos) o mercado e as pessoas, já havendo percebido estas oportunidades, acabaram por torná-las menos óbvias de explorar.

O José veio de Portugal para o Brasil muito jovem, com 17 anos. Seu único dinheiro (emprestado do pai) foi totalmente gasto na passagem de vinda, de navio. Sua educação formal se limitou ao que hoje chamamos de ensino fundamental, feito em Portugal.


Eu, por outro lado, tive uma boa educação formal. Meus pais me proporcionaram uma ótima infância. Estudei em um ótimo colégio. Cursei uma concorrida faculdade pública. Comecei a trabalhar com 21 anos. Mesmo somando todas estas vantagens, me sentia abaixo dele no sentido de “conhecimento monetário”, pois por um lado, não poupava, por outro, não investia, como fazia o meu tio José.

A primeira fonte de renda do José foi trabalhar de empregado. Ao chegar de navio, ele não conhecia ninguém no Brasil. Não sabia para onde ir, onde dormir. A oportunidade que lhe apareceu naquele momento foi apenas uma: trabalhar de estivador do cais do porto. Com isso, o local onde havia desembarcado no Brasil havia se transformado em seu lar e local de trabalho.


Passados alguns dias naquela intensa rotina inicial, ele logo percebeu que aquela profissão não o deixaria confortável financeiramente. A sua preocupação então foi juntar o mínimo suficiente para abrir um negócio próprio. Decidiu então trabalhar como feirante.


O fato de ter trabalhado como feirante não lhe proporcionou automaticamente uma alta renda, mas um outro fator contribuiu, e muito, para que ele conseguisse progredir um pouco mais nos seus negócios: ele sabia viver com muito pouco.

Naquela época, principalmente na Europa, os recursos eram muito escassos. Raramente José se alimentava mais do que duas vezes por dia enquanto vivia por lá. Mais raro ainda era ver carne em suas refeições. Ele possuía apenas alguns conjuntos de roupas e um sapato. Economizava até no fósforo já usado. Graças a esse estilo de vida frugal que ele foi obrigado a aprender a praticar, acabou conseguindo juntar grande parte dos lucros que a sua barraca de feira proporcionava.

Sua segunda grande iniciativa empreendedora foi alugar uma loja e montar um abatedouro. Naquela altura, ele, já casado, havia percebido que esse tipo de estabelecimento poderia lhe proporcionar lucros vultosos na época. Ele conseguia isso comprando uma grande quantidade de aves e estocando-as para vender nas semanas seguintes por preços bem maiores, já que a inflação naquela época andava a galope. Além disso, não havia supermercado nas redondezas, e as pessoas costumavam comprar frango vivo para ser abatido na hora.


A renda do abatedouro, junto com o estilo frugal de sua família, possibilitou que ele abrisse uma casa lotérica em uma loja alugada. A partir deste ponto, seu patrimônio financeiro deu uma grande guinada. Os lucros da casa lotérica, junto com os lucros do abatedouro permitiram a ele explorar ótimas oportunidades no mercado imobiliário. Num período de 10 anos, José comprou terrenos, casas, construiu prédios, abriu lojas comerciais, postos de gasolina, casas de praia, etc... Depois de 30 anos desde que chegou ao Brasil, ele conseguiu até ser proprietário de um shopping.

Mas o dia-a-dia do José escondia alguns outros detalhes, por mais paradoxais que fossem: ele e sua família (minha tia e primos) viveram durante mais de duas décadas num apartamento alugado, mesmo muito depois dele possuir possibilidades de comprar um próprio. Além disso, os carros que adquiria nunca eram muito caros. Ele permanecia com um mesmo automóvel durante muitos anos. Os eletrodomésticos não eram os da moda. Lembro até hoje da sua antiga TV de 20 polegadas, que durou muito tempo até que ele a trocasse por outra.


Dessa forma, todas essas características faziam dele uma pessoa notável nos “3 passos” da riqueza.

Comparando com os dias atuais, podemos questionar este estilo de vida e argumentar que “a vida passa muito rápido”, e que temos que gastar e “viver a vida”  antes de morrermos. Pensei assim durante muito tempo. Isso parece ser mais plausível. Mas, por mais que eu “vivesse a vida” no estilo de gastar, mais efemeridade via nos meus gastos. A felicidade por comprar um tênis caro durava algumas horas, quem sabe alguns dias, mas não resolvia a minha insegurança. Isto me incomodava mais do que todas as outras coisas.

Logicamente, a insegurança estava ligada à questão financeira. O medo de perder o emprego, ficar doente e precisar de ajuda médica particular, ter que ajudar os meus pais e a minha família em uma situação de urgência, mas não poder por não ter dinheiro suficiente. Cheguei a conclusão que o estilo de felicidade baseada em gastar era como “enxugar gelo”.

A partir de então, passei a olhar as pessoas que viviam assim com uma outra visão: passei a admirá-los. Desde a minha mudança de postura, li dezenas de livros relacionados ao assunto “dinheiro”. Talvez esse tenha sido o meu melhor investimento. Já encontrei em livros que custavam menos de R$30,00 lições valiosíssimas, que me permitiram economizar milhares de reais de aprendizado.

Bom, mas o caso do José foi apenas um exemplo. As oportunidades raramente se repetem para pessoas diferentes em momentos diferentes. Todo ser humano pode achar um caminho de geração de renda, sem precisar recorrer à ilegalidade ou à falta de ética. Para isso, não precisa ser Phd em Física.




Minha mensagem final: "Busque o seu caminho assim como a água busca o seu trajeto em um rio."

9 comentários:

  1. Gosto dessas histórias, meus sogros são portugueses e aprendo com suas experiências. Mas MP esta devendo a carteira de ações , fico no aguardo e sucesso!

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    1. Fábio,

      Pode deixar que no próximo post falarei da minha alocação de ativos.

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  2. Muita gente chamaria seu tio de avarento, mas na realidade ele era uma pessoa simples e desapegado, sentia-se feliz trabalhando o dinheiro era só consequência.

    Abraço !!

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  3. Fabulosa história! Estou tentando fazer algo semelhante. Sai de minha terra natal sem nada, com algumas dividas, fiz outras e agora lutando estou amealhando alguma coisa... Frugalidade, trabalho duro e educação financeira.

    Um abraço, gosto muito de teu blog!

    V.

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  4. qual sua carteira de ações no momento?? abs

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    1. Leo,

      Estarei divulgando a minha alocação de ativos no próximo post.

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  5. Bela estória, inspira a gente e dá mais um gás para continuar no caminho da satisfação pela frugalidade e acumulo.

    Na mensagem pra mim, fica evidente que devo equacionar o acúmulo com gastos com prazeres, para que seja dosado e eu não chegue ao fim da vida pronto para vivê-la com conforto. Daí não vai adiantar muito, pois vou estar velho, com artrite e senil, hehehe...

    Lambida do Poney !

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  6. E ai , estamos aguardando sua carteira com base em sua tecnica de pesquisa de ativos, abs

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  7. Mas do que vale ter dinheiro e se privar das vontades, ficar com medo gastar ???

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