sábado, 26 de janeiro de 2013

Como invisto em ações

Comecei a investir em ações em 2003, mas comecei a ganhar dinheiro a partir de 2009. O lógico seria eu ter ganho muito dinheiro com isso (já que a bolsa subiu bastante entre 2003 e 2007), mas não foi exatamente o que aconteceu. Posso dizer que na verdade devo ter saído com um prejuízo de uns R$20.000,00. Se tivesse aplicado na poupança neste período, teria hoje + R$28.000,00.

Contudo, tudo isto foi bom.

Em 2003 eu tinha 21 anos. O investidor iniciante sempre começa com ações de empresas conhecidas: Petrobras, Vale, Banco do Brasil, Bradesco, etc.. O interessante é que normalmente o iniciante não entende os fundamentos de seus investimentos. Investe por que ouve falar que estas empresas são boas, e que são grandes e importantes.

O investidor iniciante também é muito suscetível a emoções, e estas emoções fazem com que ele siga exatamente a estratégia perdedora: comprar na alta e vender na baixa.

A partir de 2009 passei a ganhar dinheiro na bolsa. E desde então são 4 anos batendo o iBovespa.

A pergunta é: qual foi o divisor de águas que determinou esta mudança? Será que isto irá perdurar?

De 2003 a 2008 fui fundamentando a minha estratégia de investimentos a partir do que aprendi com a prática e com os livros. Abaixo comento estas lições:

O que aprendi na prática:

1) Objetive encontrar ações que valorizarão ao menos 1000% em 10 anos

1000% parece muito em 10 anos? Pois bem, isto equivale à uma taxa composta de 27,1% a.a.. Diversas empresas conseguiram igualar ou superar esta taxa nos últimos 10 anos. Vou citar várias, mas a conta passa de diversas dezenas:

  • Bradespar (BRAP4). Em jan/03 o papel valia R$2,88. Em jan/13 vale R$30,52. Valorização de 1060%
  • Eternit (ETER3). Em jan/03 o papel valia R$0,77. Em jan/13 vale R$8,57. Valorização de 1113%.
  • AES Tietê (GETI3). Em jan/03 o papel valia R$1,69. Em jan/13 vale R$19,20. Valorização de 1137%
  • Ferbasa (FESA4). Em jan/03 o papel valia R$1,06. Em jan/13 vale R$12,46. Valorização de 1176%.
  • Banco do Brasil (BBAS3). Em jan/03 o papel valia R$2,00. Em jan/13 vale R$25,40. Valorização de 1270%.
  • Ambev (AMBV4). Em jan/03 o papel valia R$7,01. Em jan/13 vale R$92,40. Valorização de 1319%.
  • Sabesp (SBSP3). Em jan/03 o papel valia R$6,37. Em jan/13 vale R$90,77. Valorização de 1425%.
  • Confab (CNFB4). Em jan/03 o papel valia R$0,42. Em jan/13 vale R$5,99. Valorização de 1426%.
  • Souza Cruz (CRUZ3). Em jan/03 o papel valia R$1,99. Em jan/13 vale R$32,30. Valorização de 1624%
  • Grazziotin (CGRA4). Em jan/03 o papel valia R$0.90. Em jan/13 vale R$18,00. Valorização de 2000%.
  • Hering (HGTX3). Em jan/03 o papel valia R$0,45. Em jan/13 vale R$36,50. Valorização de 8111%.

Esta taxa garantirá o primeiro milhão (de reais) em 10 anos, para quem tiver a capacidade de guardar ao menos R$2.500,00 por mês, sem considerar a inflação. Observe também que não estou considerando os dividendos pagos, que fazem uma substancial diferença na rentabilidade dos papéis.

A pergunta é: Como identificar tais papéis? Prever o futuro é impossível, mas enxergar o mais próximo possível dele é. Continue lendo este post até o final.

Nota: a inflação acumulada neste período foi de 77,16%.

2) Não invista em empresas muito grandes (mais do que R$80 bilhões em valor de mercado)

O motivo que me faz não considerar investir em empresas muito grandes tem uma relação direta com o item anterior. Para exemplificar:

  • A Ambev (AMBV4) vale cerca de R$289 bilhões, ou aproximadamente 6,3% do PIB Brasileiro (US$ 2.3 trilhões)
  • A Petrobras (PETR4) vale cerca de R$256 bilhões, ou aproximadamente 5,6% do PIB Brasileiro
  • A Vale (VALE5) vale cerca de R$208 bilhões, ou aproximadamente 4,6% do PIB Brasileiro

Juntas, apenas estas três empresas correspondem a cerca de 16,5% do PIB Brasileiro.

Agora imagine: qual a possibilidade de que empresas deste tamanho cresçam 10 vezes (valorização de 1000%) o que valem atualmente nos próximos 10 anos? Caso isto se concretize (bastante improvável), tais empresas valerão, juntas, mais do que o PIB atual do Brasil daqui a 10 anos.

Para os que observaram a Ambev no item anterior, observem que a fase de comprá-la já passou... hoje ela é uma empresa completamente fora do meu radar.

3) Tenha sempre ao menos 20% do dinheiro de investimento em disponibilidade imediata.

O mercado oscila, e às vezes bruscamente. Caso ele oscile bruscamente para baixo (-15% em um mês, por exemplo), uma nova janela de oportunidade de compra poderá se abrir, mas isto de nada adiantará se você estiver com o seu dinheiro completamente alocado, sem poder aproveitar esta oportunidade.

Caso o mercado oscile para cima, venda papéis suficientes para manter os 20% de disponibilidade imediata.

4) Não leve analise técnica muito a sério.

O grande problema da análise técnica é que ela pode te levar a diferentes interpretações. Para QUALQUER situação de mercado sempre haverá uma técnica que te dirá que há um momento de compra, e outra que te dirá que há um momento de venda. Isto vira quase que um jogo, onde os que vencem dizem que ela funciona, e os que perdem dizem que ela não funciona.

A rotina do grafista (quem utiliza analise técnica) é muito estressante, além de arriscada. Não conheço ninguém que ficou extremamente rico com análise técnica. Não me compatibilizo com o perfil dos grafistas famosos, como Alexander Elder, Didi e Márcio Noronha.

5) Seja comedido com investimento em opções.

Não recrimino o investimento em opções, principalmente a venda coberto. O que não entendo é como alguns investidores que nem conseguem ganhar dinheiro com ações acreditam que podem pular etapas e ganhar dinheiro com opções. Opções requer atenção e acompanhamento. O que não me motiva investir em opções é o fato de que é possível e muito mais prático e racional ganhar muito dinheiro com ações. Só para exemplificar, Warren Buffett é considerado o maior investidor de todos os tempos por que conseguiu uma média anual de 20% .... durante ... 40 anos ... e ele investiu majoritariamente em ações.

É racional que os investidores iniciantes não se iludam quando ouvirem um colega dizer que ganhar "fácil" 40% ao ano com opções. Pense nisto: se fosse fácil, Warren Buffet já teria sido superado diversas vezes por outros.

6) Não compre lotes de ações muito pequenos. Fique de olho nas taxas de corretagem.

Se você compra lotes de ações muito pequenos, pode ter que almejar uma rentabilidade muito alta para que possa compensar os custos com corretagem. Por isso evito o mercado fracionário ou compras menores que R$5.000,00.


O que aprendi nos livros e nas palestras:

1) Não invista em empresas de tecnologia e aviação.

Esta lição eu aprendi com Lirio Parisotto, um grande investidor brasileiro. A razão óbvia para a não escolha destas empresas é que tais setores ou são difíceis de prever e projetar, ou por que são extremamente suscetíveis à concorrência de preços, o que acaba afetando o fluxo de caixa e levando ao endividamento. Vale lembrar que são pouquíssimas as empresas destes setores com mais do que 30 anos de vida.

2) Procure por empresas boas E baratas, não boas OU baratas.

Achar empresa baratas é fácil. Achar empresas boas também. O difícil é achar empresas boas E baratas. Como encontro estes papéis? Sugiro ler sobre a fórmula mágica de Joel Greenblatt.

3) Não invista em empresas endividadas ou que não dão lucro.

Pra que analisar empresas endividadas se o mercado me oferece um leque ENORME de opções melhores (empresas lucrativas e com dinheiro em caixa)?

4) Faça uma carteira de ações diversificada, mas não muito (até 10 papéis de setores distintos).

A diversificação é um importante componente de mitigação de riscos. A diversificação em excesso, ao contrário, é um indesejável componente que prejudica a rentabilidade e dificulta o acompanhamento da carteira.

5) Seja comedido quando a maioria está agressivo e seja agressivo quando a maioria está comedido.

Traduzindo: compre na baixa e venda na alta. Difícil?

O que eu considero baixa:

  • iBovespa com -15% em um mês
  • iBovespa com -35% em um ano
O que eu considero alta:
  • iBovespa com +10% em um mês
  • iBovespa com +40% em um ano.


Pense nestes filtros na hora de comprar e vender os seus papéis.


Qual a minha técnica:

Minha técnica é uma aperfeiçoamento da fórmula de Joel Greenblatt. Quinzenalmente analiso os papéis da bolsa. Desenvolvi um software (sou da área de tecnologia) que me permite obter os indicadores fundamentalistas de todos os papéis da Bovespa com atraso de 1 dia. A partir daí aplico alguns filtros:

- P/L (indicador Preço/Lucro) entre 0 e 11.
- ROE (Retorno sobre o Patrimônio) maior do que 9% a.a.
- Liquidez diária de ao menos R$24.000,00.
- Patrimônio Líquido entre R$200 milhões e R$80 bilhões.
- Crescimento médio da receita nos últimos 5 anos maior do que 8% a.a.
- Empresas que não sejam dos setores de Tecnologia ou de Aviação.
- Relação (Dívida Bruta / Patrimônio Líquido) de até 0,2.
- Pagamento médio de dividendos nos últimos 5 anos de ao menos 3% a.a.

Do que sobra, faço uma análise do valor do papel naquele momento: a cotação atual do papel está muito próxima da maior cotação nas últimas 52 semanas (aprox. 1 ano)? Caso afirmativo, espero um momento de baixa para comprar o papel. Caso negativo, coloco ele no meu radar para compra.

Nos próximos posts falarei um pouco mais sobre a minha forma de investir.

Para finalizar, cito uma frase de Warren Buffett: "Alguém está sentado na sombra hoje porque alguém plantou uma árvore há muito tempo."


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Minha evolução patrimonial

Como já disse anteriormente, o aumento de patrimônio não é um bom indicador de saúde financeira: o melhor indicador é o fluxo de caixa. Apesar disso, começarei demonstrando minha evolução patrimonial para contextualizar os leitores.

No gráfico a seguir é possível visualizá-la ao longo dos últimos 10 anos. Comecei a trabalhar em 2003 em um estágio que me pagava R$320,00 reais por mês. Estava no sétimo período da faculdade. Hoje trabalho em uma empresa pública, atuando na área de tecnologia.

Evolução patrimonial dos últimos 10 anos


Atualmente o meu salário gira em torno de R$10.000,00 + benefícios (salário bruto). Acabo de completar 31 anos. O meu objetivo sempre foi depender cada vez menos do salário para sobreviver, ou seja, ser capaz de gerar uma renda passiva que consiga pagar as despesas pessoais da minha família. Sou casado, mas ainda não tenho filhos. Minha esposa colabora com as contas da casa e possui um salário equivalente ao meu, apesar de seguir outra profissão.

Hoje possuo um patrimônio de cerca de R$450.000,00. Os mais atentos irão observar que a curva de evolução patrimonial vêm se acentuando bastante desde 2010: isto é um reflexo direto da influência da renda passiva gerada pelos investimentos e pela renda da minha esposa. Em tempo: nos casamos em 2009.

Uma outra observação importante se refere aos anos de 2008 e 2009, que pouco contribuíram para a evolução patrimonial. A explicação é: sofri com a crise da bolsa em 2008 e em 2009 me casei e passei a lua de mel no exterior.

No próximo post falarei um pouco mais sobre a minha alocação de ativos e as minhas estratégias para geração de renda passiva.